Época de exames aumenta 'stress' e procura de ajuda psicológica
elsa costa e silva
A época de exames escolares é o maior pico de stress para os alunos. É uma altura em que aumenta a frequência de consultas de psiquiatria, com muitos alunos a pedir a prescrição de medicamentos para melhorar a sua concentração. Substâncias como vitaminas e fósforo são as preferidas. Mas há quem chegue à farmácia sem receita médica e quem comece a procurar ajuda psicológica logo em Janeiro. Na última semana, a possibilidade de adiamento dos exames foi um factor acrescido de ansiedade. Aumentou a incerteza, " e esta é corrosiva do investimento do indivíduo na tarefa", explica Pedro Rosário, especialista da Universidade do Minho em psicologia da educação e nas questões da aprendizagem. Mas os alunos mais ansiosos são os que obtêm maior rendimento escolar. Isabel Brandão, da consulta de Adolescência do Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João, no Porto, confirma que a época de exames conduz a um "aumento da afluência" de jovens àquele serviço e que as "queixas de ansiedade são mais frequentes". Segundo a psiquiatra, "com a proximidade de provas tão decisivas há muitos que receiam não serem capazes ou não ficarem satisfeitos com os seus resultados". E acabam por pedir a pres- crição de medicamentos para "rentabilizar o tempo de estudo", como vitaminas ou fósforo, algo a que os médicos, explica Isabel Brandão, raramente acedem "Nesta idade, não é necessário medicar a rentabilidade da memória."O certo é que a corrida às farmácias para melhorar a actividade da memória aumenta nesta altura do ano.
Maria da Luz Sequeira, farmacêutica e vice-presidente da Associação Nacional de Farmácias, confirma-o e diz que a maior parte dos jovens chega sem prescrição médica, já que estes produtos são de venda livre. Mas, muitas vezes, a iniciativa é dos próprios pais. "Explicam que os filhos estudam muito, estão cansados por causa da altura dos exames e pedem qualquer coisa que ajude na concentração e memorização", conta a farmacêutica. No entanto, o Verão já é uma altura do ano em que a população em geral acusa alguma astenia. Os estudantes ressentem-se mais pelo esforço acrescido de um ano de estudos. O lado bom. De acordo com a psiquiatra Isabel Brandão, há um maior nível de ansiedade quando o stress é muito, as pessoas ficam menos capazes. Contudo, nem sempre este estado é mau, até porque "ajuda a ter maior envolvimento e a mobilizar mais para o estudo". Pedro Rosário, da Universidade do Minho, diz que a ansiedade é como a corda de um violino "Precisa de uma tensão optimal." Se for de menos, não há concentração na tarefa. Mas se for de mais, "o problema é não perder o controlo". Se há jovens que investem desde cedo nos estudos, "outros há que têm de ser puxados pelos colarinhos pela ansiedade". O ideal é cada aluno identificar o seu ritmo.mais stressados. De acordo com Pedro Rosário, os níveis mais baixos de ansiedade são normalmente encontrados nos alunos mais fracos, porque os mais ansiosos são os estudantes que estão "muito orientados e muito concentrados". Esta é também a experiência de Iolanda Ribeiro, responsável pelo serviço da Universidade do Minho que faz atendimento a alunos com problemas de ansiedade em contexto de avaliação. "Quem nos procura são, normalmente, os alunos de alto rendimento e chegam aqui precocemente, logo em Janeiro e Fevereiro. Não é habitual aparecerem nas vésperas dos exames", explica Iolanda Ribeiro. Há duas situações mais frequentes a dos alunos muito ansiosos, que fazem tudo para evitar os exames e acabam por fugir, e a dos estudantes, que "sofrendo imenso de ansiedade", acabam por passar a prova. Em ambos os casos, explica aquela psicóloga, "são alunos com muitas expectativas e alto rendimento. Mas enquanto os primeiros acabam por não ter sucesso, os segundos conseguem".
Iolanda Ribeiro salienta ainda haver casos de jovens que, sendo muito orientados para o estudo, entram numa espiral de isolamento social , passando muito tempo sozinhos "Isso não é saudável e pode desencadear reacções psicossomáticas que levam a crises de pânico."Os alunos aparecem na consulta ou por iniciativa própria, levados pelos pais ou aconselhados por pessoas conhecidas. Aprender a lidar com a ansiedade é um processo moroso, que implica o trabalho de vários parâmetros (inclusive de técnicas de relaxamento), e, por isso, a consulta não aceita novos adolescentes após Maio.Novo 'stress'. A eventualidade de um adiamento dos exames é um contexto "obviamente muito perturbador", assegura Iolanda Ribeiro, salientando, contudo, que existem diversas formas de lidar com a situação vivida esta semana. "Muitos começam a pensar que vai correr tudo mal, outros podem até achar que não vai ter impacto", afirma. Para Pedro Rosário também "é evidente que a alteração de situações face ao que está combinado é um factor de ansiedade, assim como tudo o que sejam contingências institucionais que aumentem a imprevisibilidade". Portanto, "qualquer factor do sistema que introduza tranquilidade, calma e consistência, diminui a ansiedade". A incerteza é um dos piores inimigos para quem enfrenta situações de exame, pelo que, explica o psicólogo, "a missão do educador é tentar colocar todos os meios para que os factores relacionados com o sistema sejam o menos abrasivos possível e menos potenciadores de ansiedade".Pedro Rosário explica que "a ansiedade move-se no campo da dúvida. Abala certezas". Leva os alunos a perguntar-se se serão capazes, se o tempo vai ser suficiente. E isso é preocupante, já que estes pensamentos motivados pela ansiedade "são um factor de distracção importante" na altura em que os alunos se estão a preparar para os exames.Mas o problema da ansiedade é fazer "com que o aluno se concentre no que já não tem e não no que ainda está nas suas mãos conseguir". Ou seja, leva, por exemplo, o adolescente a preocupar-se porque já passaram quatro dias e não a pensar que poderá ainda aproveitar mais três dias de estudo. É uma situação que conduz "ao imobilismo para a acção e que desnorteia a concentração".Durante a realização do exame, os alunos podem ser tentados a questionar se as suas respostas estão correctas. "A dúvida só é apaziguada pelas certezas processuais, ou seja, pelo facto de os alunos se terem preparado anteriormente vendo provas de anos anteriores, fazendo exercícios, etc.", explica Pedro Rosário. Mas "há um nível de incerteza que é inerente à realização da tarefa". Por isso, "é preciso que o aluno perceba que não pode controlar tudo e que tem que aprender a lidar com a incerteza".
Notícia retirada do jornal "Diário de Notícias" do dia 26/06/2005
1 comentário:
:)
Antes de mais queriamos agradeçer o comentário! Estavamos com grande esperança q alguem fosse pôr um comentáriozinho ao nosso blog! queremos aproveitar tambem, para dizer que o vosso blog tb está algo de interessante, até pq o stress é uma coisa q não nos larga um dia q seja!
Votos de grande sucesso :)
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