Todos nos queixamos do stress, mas não podemos viver sem ele. Fundamental para a sobrevivência, pode ser positivo ou negativo na perseguição de objectivos. Estar atento aos sintomas do stress negativo pode evitar muitas doenças graves.
O stress é contagioso, passamos uns para os outros”. A afirmação é do psiquiatra João Vasconcelos Vilas-Boas”, que descreve, assim, a disseminação deste conceito sobretudo nas sociedades modernas ocidentais. Nunca se falou tanto de stress comos nos dias de hoje e há quem diga que se trata de um fenómeno actual, no entanto, a associação entre o termo e as situações aflitivas já existe desde o séc. XIV. O vocábulo entrou rapidamente no nosso dicionário, não querendo, contudo, dizer que o utilizamos de forma correcta.
Afinal, o que é o stress? “É o conjunto de reacções do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosas e, outras, capazes de perturbar a homeostase” (equilíbrio orgânico), define o dicionário Aurélio.
Embora apareça quase sempre associado a situações de desequilíbrio, o stress pode ser considerado positivo ou negativo. “Inicialmente é uma coisa saudável”, explica o psicólogo Quintino Aires ao Saúde Semanário. E acrescenta: “É um dos mecanismos mais maravilhosos que a natureza nos deu, é fundamental para a sobrevivência”. João Vasconcelos Vilas-Boas partilha da mesma opinião. “O stress é sempre uma resposta emocional a uma situação de risco”, afirma. E acrescenta: “a resposta pode ser adequada ou desadequada”.
Stress positivo e negativo
“Não tenho stress” é, portanto, uma afirmação incorrecta, pois todos nós - até as crianças – o temos. “Ficamos em stress se estivermos em frente a um leão”, explica o psiquiatra, sublinhado que “é isso que nos faz fugir e nos dá capacidade de resposta”.
Uma discussão pontual com o chefe é também um exemplo de stress positivo. Trata-se de algo que nos impulsiona na perseguição de objectivos.
O stress negativo é o oposto, pois bloqueia-nos e impede-nos de atingir essas metas. Aí há uma alteração de equilíbrio com consequências para a saúde (ver caixa Problemas). João Vasconcelos Vilas-Boas acredita que stress, angústia e ansiedade são sinónimos e sublinha que “stress não é uma doença, mas um sintoma ou conjunto de sintomas”. O especialista prefere distinguir a angústia neurótica de angústia psicótica. “Na neurótica, a pessoa pensa que não vai apanhar o autocarro, mas corre; na psicótica, o indivíduo pensa que vai perder o autocarro e isso é o fim do mundo”, clarifica.
O que leva aos stress?
Não é fácil responder a esta pergunta, até porque somos todos diferentes e temos reacções diferentes perante as situações. Se para uns saltar de pára-quedas é uma experiência é um passatempo e um divertimento para uns, para outros só a ideia já é aterradora. No entanto, há alguns factores mais comuns, como a morte de alguém próximo, excesso de trabalho, divórcios, insegurança, instabilidade profissional, doença, perda de apetite sexual, entre outras.
Quando o stress passa a negativo surgem os problemas que se reflectem, muitas vezes em doenças. Por isso, Quintino Aires aconselha o diálogo como boa medida de prevenção. “Não devemos ter receio de falar com amigos e familiares sobre os nossos problemas, medos e insegurança”, revela. O psicólogo não tem dúvidas de que essa é uma boa ferramenta para “impedir que o stress se acumule”, o que pode evitar muitas doenças.
O que fazer?
Perturbações mentais, erupções da pele, alterações do aparelho digestivo, alteração de certas glândulas internas (tiróide), perturbações menstruais, impotência, enxaquecas e desinteresse pela actividade sexual são algumas consequências do stress. “Quando se faz das tripas, coração, tem-se gastroenterites e doença de Crowne; quando se faz do coração, tripas, há os enfartes do miocárdio”, exemplifica o psiquiatra. O especialista revela ainda a importância de se conhecerem as causas do problema. “Se uma pessoa chega a uma urgência com um enfarte do miocárdio, porque lhe morreu o filho, tem um tratamento diferente de uma pessoa com problemas no coração”, reflecte.Se nos últimos dias o acusaram de “estar muito stressado” ou o aconselharam a “não stressar, deve ter atenção ao seu corpo. Os sintomas da angústia não devem ser desvalorizados. “A primeira coisa a fazer é procurar um médico de clínica geral para avaliar a situação”, recomenda João Vasconcelos Vilas-Boas. Em muitos casos, há um reencaminhamento para um especialista em psicologia. Quintino Aires já tratou muitos pacientes nestas circunstâncias, embora, em casos mais avançados seja mesmo necessário recorrer à psiquiatria. “Quando a queda de uma agulha é um drama, sai da nossa área de intervenção. É necessário um acompanhamento psiquiátrico ou neurológico”, diz o psicólogo.
Atenção aos sinais!
Sandra Cardoso
Data: 2007-10-14
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